GPS Conference 2024: um super resumo da última edição

Escrito por Roberto Gil Espinha

17 out 2024

15 min de leitura

O GPS Conference é o maior evento de gestão de projetos de serviços do Brasil. Realizado uma vez no ano, reúne especialistas renomados da área para discutir sobre inovação, boas práticas e tendências, além de proporcionar um networking de alto nível.

A edição de 2024, foi realizada nos dias 24, 25 e 26 de setembro, contando com a presença de 43 palestrantes e mais de 9.600 inscritos. Foram três dias de imersão, com 17 painéis de conteúdo que abordaram:

  • Metodologias de projetos;
  • Geração de valor;
  • Gestão de mudanças;
  • Projetos de inovação;
  • Carreira;
  • Liderança;
  • Cases de sucesso;
  • Muito mais.

Neste artigo, você confere os principais aprendizados trazidos pelos especialistas para refletir sobre esses importantes assuntos para a gestão de projetos. Confira!

Inteligência Artificial (IA)

Desde o surgimento do Chat GPT, a IA tem se mantido entre as tendências de praticamente todas as áreas de negócio. Isso se deve principalmente ao fato de elas otimizarem o tempo e facilitarem a análise de grandes quantidades de informações.

Leonardo Bretas comentou que “quem possui mais dados, consegue entregar mais e fazer mais”. Por isso, saber utilizar a Inteligência Artificial é poderosíssimo para aumentar os resultados nos projetos e fazer entregas com maior qualidade.

No entanto, o destaque deste tema no evento não foi a utilização de prompts ou quais as melhores ferramentas, mas sim a questão da segurança atrelada às IAs.

Alessandra Monteiro, painelista da discussão sobre os maiores erros da IA, trouxe uma importante reflexão sobre a concessão de dados aos copilotos. Quando o gestor descreve seu projeto à IA e solicita um cronograma ou ajustes de em alguma etapa, ele fornece informações que podem ser replicadas em respostas futuras para outros usuários.

“Cuidado! Quando você dá informação ao copiloto, ele pode sugerir o seu projeto para outros usuários – a IA ‘aprende’, copia e repassa.”

Alessandra Monteiro

Assim, a lição que fica é utilizar as Inteligências Artificiais com cautela. A dica foi que, se possível, o ideal seria as empresas gerarem seus próprios copilotos, com uma base de conhecimento que fizesse sentido para a organização e mantivesse a segurança.

| Leia também: [entrevista] Insights de IA na gestão de projetos

Gestão híbrida em projetos

O primeiro dia do GPS Conference teve como tema central a agilidade organizacional, característica que está cada vez mais presente nos projetos e exige ajustes nas metodologias.

Se fizermos um recorte histórico, inicialmente, a gestão de projetos seguia uma lógica muito clara de processos e o próprio PMBOK®, até a quinta edição, é bastante preditivo. Porém, a partir do século XXI, essa dinâmica passou a ser alterada, com o surgimento das metodologias ágeis.

E é aqui que entra a grande questão e ponto de debate no GPS Conference, como lidar com essa transição e saber o que é mais eficaz para os projetos.

Com a introdução de práticas ágeis, muitos gestores, que não viam mais tanta eficácia na sua gestão, migraram para a nova tendência, mas se frustraram, porque ela também não funcionou como o esperado.

No painel “Liderança Ágil como alavanca da agilidade organizacional”, Júnior Rodrigues pontuou:

“Não é jogar tudo fora, mas se desprender de diversos paradigmas para implementar o novo e o ágil”

Ou seja, a era de agilidade organizacional não necessariamente exige a implementação de metodologias ágeis, mas sim a dosagem das práticas de acordo com o contexto. Por isso, um dos temas que permeou diversos painéis foi a gestão híbrida, que tenta justamente encontrar um ponto de equilíbrio no ambiente incerto e complexo atual.

Antonio Duarte apresentou que a metodologia é todo mundo usar uma mesma linguagem e estar no mesmo nível de conhecimento, mas colocá-la em prática é se adaptar e os escolher os melhores frameworks dentro dela. Nessa mesma reflexão, ele trouxe uma comparação bastante interessante ao comparar as metodologias de projetos com a profissão do médico.

Um médico tem diversas ferramentas ao seu dispor, mas escolhe qual utilizar no exame de acordo com as queixas do paciente. Na gestão de projetos, o gestor deve olhar para as metodologias como uma grande caixa de ferramentas, escolhendo aquelas que o projeto precisa.

Liderança empática

Se as metodologias de projetos se tornam mais complexas e exigem mais adaptação, esse contexto também requer mudanças relacionadas à figura do líder.

No passado, o gestor de projetos era quem delegava atividades e representava uma figura autoritária no projeto. Essa postura evolui para uma liderança democrática no contexto mais ágil. Mas, hoje, já se fala de um líder polímata, conceito apresentado no GPS Conference 2024 pelo keynote speaker, Júnior Rodrigues

Polímata é uma palavra de origem grega que significa “aquele que aprendeu muito”. Ou seja, são pessoas que buscam o aprendizado contínuo e têm a capacidade de alcançar a excelência em múltiplas áreas do conhecimento.

gps-conference-liderança

Aqui, no entanto, é importante ressaltar a fala de Karen Rebello, no painel sobre como ser um líder excepcional, de que ser um bom líder não é saber tudo, mas saber quais competências o time multidisciplinar precisa ter:

“Olhando para trás, era quase inconcebível um líder dizer ‘eu não sei isso’. Hoje, o líder não é para ser super-herói. A gente precisa trazer para junto todas as competências que vão fazer daquele organismo vivo – que é um time-, um complementando o outro, para entregar algo excelente.”

Assim, ser um líder polímata também é ser capaz de inspirar pessoas, para que elas cresçam e aprendam junto com você, sendo uma porta aberta para elevar a performance dos times.

Por isso, a liderança contemporânea é empática, porque compreende a equipe como uma unidade responsável pelo projeto ao invés de isolar habilidades e impor ações.

Assim, o próximo tópico destaque do evento é justamente como lidar com esses times e elevá-los a alta performance.

Importância das pessoas para atingir a alta performance

O caráter humano foi um tópico presente em praticamente todos os painéis do GPS Conference 2024, porque quanto mais se entende as pessoas que estão no projeto – sejam stakeholders internos ou externos – mais apropriados são os mecanismos de gestão aplicados.

“Parte importante da liderança é saber mapear os perfis com os quais estamos trabalhando. Tem pessoas que são mais autônomas e outras que precisam de um feedback mais ativo para se desenvolver. A questão de ser igual e não é tratar todos iguais, é tratar cada um de acordo com as suas características.”

– Leandro da Rosa

Essa compreensão é essencial para potencializar os times porque promove comunicações e aprendizados naquilo que realmente é necessário para cada membro. Na palestra de “segredos da alta performance em projetos de serviços”, os principais segredos foram:

Feedback: aplicar ciclos curtos de feedback, mantendo o alinhamento de expectativas e traçar planos de desenvolvimento.

Capacitação: investir no treinamento da equipe, alinhando educação formal com a prática do dia a dia.

Lições aprendidas: identificar erros e acertos e promover o desenvolvimento, tanto do profissional quanto da organização.

Mas, atenção! Apesar desses três pontos serem elencados como muito importantes, os palestrastes frisaram bastante o fato dessas responsabilidades não serem apenas da empresa. A organização deve promover um ambiente aberto à aprendizagem e trocas de conhecimento, mas o esforço e interesse precisa ser do profissional.

O plano de aprendizado é do profissional e ele não pode esperar que apenas a empresa ou consultoria module esse plano. Afinal, a carreira é dele e não da empresa.”

Charles Prada

    Gamificação

    Além disso, no GPS Conference 2024, também tivemos um painel mais prático que apresentou duas técnicas para engajar os times nessa jornada de desenvolvimento:

    Apresentado por Carla Feder, a gamificação é o uso de estratégias e elementos típicos de jogos (como desafios, pontuação e recompensas) em contextos diferentes, como no trabalho ou na educação.

    O objetivo de aplicar essas estratégias é aumentar o engajamento dos participantes e, consequentemente, alcançar mais resultados. Assim, a gamificação traz como benefícios o aumento da produtividade, a melhoria de desempenho, um senso maior de pertencimento e o engajamento contínuo.

    A proposta é aumentar a participação dos membros da equipe na atividade sugerida, o que pode ocorrer de diferentes formas de acordo com o perfil de cada pessoa:

    arquetipos de jogadores

    Lego Serius Play

    Apresentado por Jorge Secco, o Lego Serius Play é uma metodologia de facilitação que utiliza peças de LEGO para estimular a criatividade, a comunicação e a resolução de problemas em equipe. Baseada na ideia de que construir com as mãos, ela ajuda a desbloquear o pensamento criativo e a gerar insights profundos.

    Para isso, o Lego Serius Play é composto de 4 processos básicos e 7 técnicas de aplicação:

    lego serious play

    Maturidade, mentalidade e cultura organizacional

    Até agora falamos de aplicação de práticas de gestão de projetos, liderança e desenvolvimento de equipes. Mas, tudo isso só é possível quando a organização está aberta a esses elementos e trabalha de maneira proativa em relação a eles.

    Por isso, outro tema bastante discutido foi como a mentalidade dos gestores influencia a construção de ambientes mais empáticos e é um pré-requisito para elevar a maturidade no gerenciamento de projetos.

    Para trazer esta reflexão, podemos relembrar três falas ditas durante evento:

    “Sem o patrocínio da liderança, não tem cultura de gestão de projetos, porque, sem isso, nada é levado a sério”

     – Raquel Simomura

    “Os três pilares para que a agilidade aconteça são: a mentalidade, o trabalho da resistência à mudança e a colaboração”

     – Luiz Labriola

    “O ambiente e a cultura vêm antes da antes da mudança”

    – Annelise Gripp

    Quando falamos em maturidade organizacional no contexto de gestão de projetos, pensamos em alcançar resiliência frente as mudanças e conseguir entregar valor.

    Mas, para isso, não podemos nos restringir apenas ao uso de ferramentas ou técnicas modernas. Antes, é preciso construir um alinhamento cultural entre líderes e colaboradores, em que o gerenciamento de projetos seja levado a sério e faça parte integrante da estratégia organizacional.

    Um ambiente de confiança, transparência e incentivo à inovação é base para que mudanças, como a adoção de novas metodologias e tecnologias, possam prosperar.

    Portanto, construir uma cultura organizacional madura, com uma mentalidade alinhada ao compromisso conjunto da liderança e da equipe, é primordial para superar barreiras na gestão de projetos e atingir novos patamares.

    E, pensando em novos patamares e aumento de maturidade, entramos em mecanismos de sistematizar essa gestão de projetos dentro das organizações: o PMO e VMO.

    PMO e VMO

    O PMO (Project Management Office) e o VMO (Value Management Office) são estruturas organizacionais que formalizam a gestão de projetos dentro das organizações.

    Pela descrição, o PMO tem como objetivo garantir a execução eficiente dos projetos, enquanto o VMO se preocupa mais com os resultados e benefícios que os projetos entregam em relação ao que era esperado. Assim, o foco do VMO seria mais estratégico, ligado à criação de valor e à maximização do ROI.

    Aqui, no entanto, há uma discussão em aberto: o VMO é algo diferente e completar ao PMO ou apenas uma nova roupagem para algo que já acontecia?

    Essa divergência de opiniões ocorre justamente pela ideia de que todo projeto deve entregar valor. Então, se o PMO com o sucesso dos projetos, ele consequentemente também deveria estar preocupado com essa entrega.

    “Desde a descrição do que é um projeto, a gente já aborda uma visão organizacional. Então, dentro do próprio método, você tem a obrigação de fazer a validação recorrente de bussiness case, isso é, revisar a entrega de valor e verificar se está alinhado com a estratégia ou não. Para mim, VMO é só colocar um novo nome em algo que já é feito.”

    Vanessa Guitta

        Em contrapartida, há a visão de que o VMO vai além do valor entregue pelo projeto, funcionando como uma estrutura organizacional de inovação. Ou seja, o VMO olharia para o ecossistema todo da empresa e não apenas para os projetos.

        “O PMO tradicional tem como enfoque fazer projetos com excelência. Mas a empresa pode não precisar só de projetos, pode precisar melhorar seus processos de maneira contínua, reduzir lead time etc. Essa é a função do VMO”

        Marcelo Antonelli

          No GPS Conference 2024, tivemos essas duas visões presentes e não tem um certo ou errado. O fato é que a realidade atual dos projetos exige entrega de valor e inovação, seja isso realizado através de PMO, VMO ou dos dois em conjunto.

          Para encerrar essa reflexão, podemos fechar com a fala de Mirian Leite:

          “A grande mudança não está ligada só a método, é mindset. A implantação do VMO não é jogar fora o que a gente já construiu, é valorizar o que já temos, mas entender que o processo de agregar valor é construtivo.”

          Ao falar de valor, outro ponto importante é a gestão de mudança. Veja o que foi abordado sobre isso:

          Gestão de mudanças e entrega de valor

          Um projeto não cumpre sua função se não entregar valor às partes interessadas e, em um contexto incerto, isso só acontece se as mudanças forem gerenciadas.

          “Se pensarmos no conceito de tailoring apresentado no novo PMBOK®, é a gente saber personalizar o projeto de acordo com o que está ali. Então, de uma certa forma é olhar o ágil, o preditivo e a gestão de mudanças. Aí você pergunta: ah, mas cada hora o profissional tem que saber mais coisas? Sim!”

          Fernando Veroneze

            Ou seja, a mudança é constante e muitas vezes inevitável. Por isso, gerenciá-las é um elemento crucial para garantir que os projetos entreguem o valor proposto.

            Mas, implementar a gestão de mudanças não é algo tão simples, especialmente em termos humanos. É comum que as pessoas resistam às transformações, seja por medo do desconhecido ou pela falta de clareza sobre os benefícios que essas mudanças podem trazer. Esse comportamento pode comprometer o sucesso de qualquer iniciativa, por mais bem planejada que seja do ponto de vista técnico.

            Por isso, Luciana Ouverney trouxe que o grande segredo está na conscientização da necessidade de mudança, de comunicar às pessoas o porquê de fazer as coisas.

            Percebe como os mesmos temas se repetem? A gestão de projetos atual gira entorno de pessoas, entrega de valor e adaptabilidade.

            Esses elementos foram retomados no painel de encerramento do GPS Conference 2024 por Ana Soares, segunda Keynote Speaker, que apresentou o conceito de 5ª onda da gestão de projetos.

            5ª onda da Gestão de Projetos

            A gestão de projetos está em constante evolução, e ao longo das últimas décadas, tem se transformado para atender às novas demandas do mercado. Assim, o conceito da quinta onda da gestão de projetos, apresentado durante o GPS Conference 2024, reflete essas mudanças e traz uma visão do futuro, onde pessoas, entrega de valor e adaptabilidade estão no centro de tudo.

            A primeira onda começou com metodologias tradicionais, como o método cascata, com processos rígidos e lineares. Seguido disso, a segunda onda trouxe os métodos ágeis e lean, voltados para a eficiência e a eliminação de desperdícios. Na terceira onda, vimos a expansão da agilidade em escala, com uma governança de portfólio mais estruturada. Já a quarta onda foi marcada pela agilidade de negócios, que alinhou estratégias empresariais à capacidade de adaptação ao mercado.

            Agora, a quinta onda é caracterizada por pessoas. Com a ascensão tecnológica e metodologias híbridas, a gestão de projetos é precisa integrar essas tecnologias com foco na entrega de valor e na orientação ao ser humano. Os gerentes de projetos precisarão ser os “humanos” da equipe, realizando conexões que a IA ainda não é capaz de estabelecer.

            Portanto, de acordo com Ana Soares, os pilares da quinta onda são: GESTÃO DE PESSOAS e GESTÃO DE MUDANÇAS.

            Conclusão

            O GPS Conference 2024 foi um marco para a gestão de projetos no Brasil! Com uma programação intensa e diversificada, o evento proporcionou um espaço único para networking e aprendizado contínuo para mais de 9.500 profissionais da área.

            O GPS Conference retornará em sua edição de 2025 com muito mais conteúdo para ajudar profissionais de gestão de projetos a elevar sua performance. Você gostaria de algum tema na próxima edição? Sugira nos comentários desse artigo!

            Roberto Gil Espinha
            Com mais de 20 anos de experiência em projetos com especial ênfase em Finanças e TI, vários destes como executivo da Datasul, atual Totvs. Atualmente é sócio Diretor da Euax, e lidera a equipe que desenvolve e comercializa o Artia, uma ferramenta inovadora voltada para a Gestão de Projetos. Também atua como consultor em empresas na estruturação de seus processos e metodologias de gestão de projetos, infra de TI e na adoção de boas práticas de engenharia de software. Bacharel em Administração de Empresas, com especializaçõe em Gestão Empresarial pela FGV-RJ e em Engenharia de Software pela PUC-PR. Certificado PMP e PMI-ACP pelo PMI, ITIL Foundation pelo EXIM e CSM, CSP pela Scrum Alliance.
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